Jogos, trapaças e 2016 canos fumegantes.

5 out

então, como todos já sabem – e esse blog nem pretende dar tratamento de notícia ao tema-, o Rio de Janeiro sediará a Olímpiada – o maior evento poliesportivo do mundo.

manifesto, aqui no blog, minha posição contrária à realização da Olimpíada no Brasil. e as razões, que irei expor logo mais, vão além da tragédia-anunciada (e tradição nacional) dos desvios de verba, das irregularidades nas licitações à empresas e todo o jogo de bastidores que certamente enriquecerão pessoas, físicas e jurídicas.

é óbvio que, numa posição de consumidor e espectador passivo, é maravilhoso termos a Olimpíada, esse evento histórico e de magnitudes e importância ímpares na história da humanidade, no nosso país. legal ver o desfilar, nas alamedas do povo brasileiro, dos estandartes do mundo todo, sendo carregados por semblantes de seres humanos realizados ao participarem de um acontecimento que remete ao universo glorioso da “paz e cordialidade entre os povos”.

mas numa posição de cidadão crítico à política nacional e internacional, com uma opinião particular, claro, considero uma lástima ao país. não ao país do governo, o “país de todos”, cheio de projetos e roupagem de democracia e desenvolvimento, de amparo e assistencialismo. falo do país que empurrou os negros para as periferias, que oprimiu os imigrantes operários, que reprime os sonhadores e que, submetido à ordem global do capital, sustenta um sistema do medo e não de esperança (ah! a classe média…).

foto por Marcia Foletto (oglobo.com)

foto por Marcia Foletto (oglobo.com)

o país comemora ter saído da crise ileso (mesmo com milhares de trabalhadores perdendo o emprego… vai entender). seus dirigentes e capitalistas vêem a nação prosperar economicamente. do governo, se esperaria naturalmente que o bom momento econômico, aliado aos pesados impostos que paga o contribuinte (eu, você e mais cerca de 183 milhões de pessoas), traga investimentos satisfatórios na educação, saúde, transporte e claro… infraestrutura. mas em contra da lógica do bem estar social, a eterna bandeira liberal da “geração de empregos” está mais uma vez hasteada no topo da pirâmide social brasileira. além disso, o argumento da melhoria na infraestrutura carioca é propagada – e aceita! – como uma justificativa e como benefício da realização dos jogos aqui. leia-se: do investimento de muitos milhões no evento e na capital do estado do Rio de Janeiro.

"sol e lucro para os ricos; violência para os pobres'

nada se aprendeu com o Pan 2007, que custou R$3,7 bilhões aos cofres públicos (municipal, estadual e federal). quase 800% mais que o previsto.  além disso, foram muitas as denúncias de isolamento da população pobre e do caráter elitista do evento. pior: a realização da Olimpíada no Rio tem tudo para amplificar os efeitos de segregação sócio-espacial. como já se denunciou por aí, em ocasião da visita do Comitê Olímpico Internacional ao Rio, uma operação de “limpeza da cidade” (ou seja, remoção de mendigos e moradores de rua) foi realizada e flagrada pela imprensa.

é difícil fazer qualquer prognóstico, já que a política(gem) é o carro-chefe do projeto milionário do evento.

e por falar em politicagem, registro aqui que, na minha opinião, a escolha da sede era um jogo de cartas-marcadas.  a questão política prevalecera. mas assumo o caráter especulatório das minhas afirmações, com o intuito de isentá-las da acusação de serem levianas. mas custa muito caro a mim acreditar na transparência e na inocência da votação de sedes olímpicas. Madrid que o diga.

não nos custa lembrar neste tópico que Carlos Arthur Nuzman, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), tem um histórico controverso: além dos problemas do Pan, Nuzman fora eleito para seu quarto mandato à frente do Comitê de maneira pouco clara, na “surdina”. O país padece de uma sindrome tirânica dos diplomatas esportivos. Tirania que tem seu símbolo-mor no presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira.

em tempo, podemos relacionar todo o alvoroço causado pela vitória do Rio de Janeiro às eleições presidenciais que se aproximam. a jogada certamente fará parte do evento de celebração da ilusão democrática em 2010.

o jogo político abrange um universo enorme, passando pelo Comitê Olímpico Internacional, o Brasileiro, a política do Governo Lula e, para além do factual,  todo um projeto político nacional. o preço dessa política desenvolvimentista, no entanto, pode ser muito caro para o povo. primeiro porque este precisa de livros, remédios e outras melhoras de vida de primeira instância. segundo porque são os que serão isolados e não terão cadeira nos palcos luxuosos dos jogos olímpicos.

afinal, qual o preço desse desenvolvimento? e mais, qual a necessidade maior do povo brasileiro? é necessário e positivo que se realizem megaeventos bilionários para que os detentores do poder (Estado e mercado) atentem para os problemas urbanos e populares (que já atingem proporções escandalosas) no país?

decerto, são jogos com regras bem definidas e cartas marcadas, cheio de trapaças e, em 2016, canos fumegantes.

Felipe Bianchi

4 Respostas to “Jogos, trapaças e 2016 canos fumegantes.”

  1. Vlad 05/10/2009 às 11:05 #

    Excelente post, bom título. Compartilho de todas suas opniões e paosto como Madrid será sede em 2020… Copa em 2014, Olimpiada em 2016… Torço para que isso não aconteça mas se a farra com o dinheiro público se repetir o Brasil demorará 500 anos pra pagar tal dívida… Resta a nós povo, cobrar dos envolvidos seriadade, compromisso e isenção (o miimo e obrigatório…) mas como a maioria das pessoas está tão esfuziante como o imortal presidente nuzman, do COB, acho que a farra vai acontecer mesmo e potencializada devido a importância dos eventos.

  2. Tabata 05/10/2009 às 12:20 #

    Ia começar o comentário idêntico ao de cima. Agora que vi!
    Mas, como não é mentira: Excelente post, bom título.
    Concordo muito com tudo o que disse. Na verdade, desaprovei desde o início essas Olimpíadas de 2016. Muito legal, muito bonito, muita pose pro exterior, mas quem vai ser beneficiado com isso? Eu? Você? Duvido.

    Beijos, Pipo! Continue escrevendo *fodamente* assim haha

    • felipebianchi 06/10/2009 às 10:18 #

      Valeu Tábata e valeu Vlad tambem.
      Legal vocês compactuarem com a opinião.
      Fiquemos ligados, pois já tá saindo várias reportagens falando de problemas que já estão surgindo em relação ao evento…

  3. Romerito 06/10/2009 às 15:04 #

    Antigamente pelo menos o “panem et circensis” era para o povo; hoje nem isso! (não que tenha que voltar) hehehe

    Resta a nós denunciar toda essa politicagem, seus efeitos e interesses nefastos.
    Aproveitar que o mundo inteiro, em 2016, voltará os olhos e ouvidos pra esse canto do terceiro mundo e fazer soar a voz dos trabalhadores. Aqueles que de fato tornam real o acontecimento desse evento.

    Você já deu o primeiro passo.
    Belo post.

    Abraço

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