A indissociabilidade entre arte e política – PARTE III

27 ago

bom, como prometido no post anterior (pré-requisito para a leitura a seguir), aqui está a terceira parte da discussão acerca da relação entre arte e política (que aqui analiso como indissociáveis).

minha insatisfação com apenas duas partes se dá pelo fato de eu ter deixado muito em aberto a possibilidade de interpretação da discussão no sentido de aspectos da produção artística mais voltados como o estímulo, incentivo, financiamento, quando na verdade eu queria dizer mais é de um contexto maior (político, social, econômico, etc).

isso significa que deve ser levado em consideração não só o produto, mas a motivação da produção, o seu significado, as suas interpretações. e não só isso. faz parte da análise da política na arte o material com que se produz: de onde vem, quanto custa, quem comercializa e lucra?

arte é política, pois envolve uma gama interminável de fatores influentes, confluentes e resultantes.

e no auge da pós-modernidade e do capitalismo pós-industrial, arrisco defender alguns ideais do Construtivismo Russo, que objetivava não a arte política, mas a socialização da arte; esta seria presente no cotidiano, reconstruindo o modo de vida e  sendo agente de transformação social (nota: o movimento possuía muitos outros aspectos além dos explicitados aqui).

Lestinitsa (Escada, 1930), de Alexander Rodchenko

Lestinitsa (Escada, 1930), de Alexander Rodchenko

Alexander Rodchenko Books 1924

"Books" (1924), de Alexander Rodchenko

nessa perspectiva, sugiro a acepção do termo “arte” como qualquer objeto que possa ser interpretado como tal (manifestações cotidianas no geral), mesmo tendo em mente o alto grau de subjetividade empenhado nessas interpretações e, por conseguinte, diferentes visões.

Ginástica matutina no telhado de um Hostel de estudantes em Lefortovo, 1932, de Alexander Rodchenko

Ginástica matutina no telhado de um Hostel de estudantes em Lefortovo, 1932, de Alexander Rodchenko

Fotomontagem para a Revista Young Guard, 1924, de Alexander Rodchenko

Fotomontagem para a Revista Young Guard, 1924, de Alexander Rodchenko

creio que, com essa parte adicional, preenchi a lacuna que ficou nas duas primeiras.

se é possível apontar uma conclusão para isso tudo, é que, além de a arte estar não somente nos objetos mas também nos olhos de quem a vê, esta só será compreendida totalmente se analisada em diversos aspectos, sendo fundamental entender seu contexto. só a contemplação do objeto não é, certamente, sua digestão e entendimento.

“Para vocês, o cinema é um espetáculo. Para mim, é quase um meio de compreender o mundo.”Maiakovski, 1922

5 Respostas to “A indissociabilidade entre arte e política – PARTE III”

  1. Mars. 27/08/2009 às 11:32 #

    não entra na minha cabeça, de forma alguma, que a arte deva ser “compreendida totalmente”…

    • felipebianchi 27/08/2009 às 11:50 #

      é um bom ponto!
      talvez não deva entrar mesmo.
      mas pura contemplação eu creio ser um pouco de masturbação mental. concordo com o “totalmente”.

  2. Diego 27/08/2009 às 13:10 #

    acho que no dia que a arte for compreendida totalmente ela deixa de ser arte.

  3. Mars. 28/08/2009 às 11:18 #

    e eu ainda acho tambem que, na maior parte das vezes, a simples contemplacao nos traz aprendizagem maior do que a analise do contexto em sim.

    • felipebianchi 28/08/2009 às 13:17 #

      discordo integralmente do “na maior parte das vezes”. não acredito, inclusive, no ideal flaubertiano de “a arte pela arte”.
      a excessão se dá pelo fato de que há objeto de arte que é feito pura e simplesmente para contemplação. agora, aprendizagem… não sei. eu diria “prazer” (num sentido sensorial e tal) no máximo.

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